Acabou de ser mãe? E agora? Sabe como recuperar o seu corpo?

Após o nascimento do bebé, o corpo da mulher muda por efeito de todas as alterações hormonais, que lhe conferem a laxidez ligamentar e perda de força e alongamento muscular, de acordo com o necessário para o desenvolvimento e nascimento de um novo ser. Enquanto está grávida a mulher sofre alterações anatómicas sobretudo a nível da bacia e do peito que alargam, as mamas e a barriga projetam-se para a frente. Estes factos levam a uma alteração do centro de gravidade, o que implica alguma instabilidade e consequente aumento a base de sustentação enquanto caminha e faz atividades de pé; os ombros anteriorizam e rodam internamente, as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral aumentam a sua angulação para compensar o aumento do peso anterior. Após ser mãe, a mulher apresenta os músculos da região escapulo-torácica, parede abdominal e pavimento pélvico em alongamento, como consequência da gravidez e do parto, bem como todas as alterações posturais associadas e alteração do padrão mecânico de movimento e da respiração.
Outras consequências da gestação que se podem encontrar, isoladas ou não, são o edema abdominal e/ou de membros inferiores, diástase abdominal (afastamento dos retos abdominais), mastite (inflamação da mama), dores lombares, cervicais e/ou membros superiores, cicatriz por episiotomia, alterações na digestão, alterações no controlo urinário e/ou fecal, flacidez dérmica, estrias e melasma, alterações psicológicas e emocionais.
E se for cesariana?
Nem todos os partos podem ser pelo método tradicional (vaginal), designado “Parto Normal”. Quando surge a necessidade de realizar um parto através de uma cesariana, a mulher é então submetida a uma cirurgia. Assim, no pós-parto deve ser tida em conta a reabilitação pós-operatória. Esta condição requer um maior tempo de recuperação, tendo que respeitar o tempo de cicatrização tecidular. Este fator, bem como a intervenção cirúrgica sobre o tecido muscular da parede abdominal, leva a um défice acentuado desta musculatura e da sua capacidade de contração. Embora possa haver uma menor perda direta da força muscular do pavimento pélvico, indiretamente este vai estar afetado por todas as alterações durante a gravidez e pela influência da perda significativa da força da parede abdominal.
Como pode a Fisioterapia ajudar?
O acompanhamento no período pós-parto é fundamental para a recuperação, parcial ou total da função do corpo da mulher, trazendo-lhe uma maior capacidade de adequação a todas as alterações que a sua nova condição de mãe implica.
Segundo a American College of Sports Medicine (ACSM) deve iniciar-se a intervenção pelo exercício em partos vaginais após 4-6 semanas e entre 8 a 10 semanas no caso de cesariana.
No entanto, com um quadro clínico estabilizado e não havendo contra indicação médica, a intervenção da Fisioterapia no pós-parto pode começar desde cedo, pela avaliação da condição funcional, acompanhamento no controlo do edema, correção do padrão respiratório e ensino de posicionamentos e movimentos corretos para as tarefas do dia a dia. As mães devem ser encorajadas a ser ativas, o que promove as funções circulatória e respiratória. A intervenção a nível da fisioterapia dermatofuncional promove uma normalização mais eficaz da função da pele facilitando o processo de reabilitação. Em cesarianas, a intervenção a nível das cicatrizes, deve ser iniciada assim que a regeneração tecidular assim o permita. Este processo é importante para promover uma boa cicatrização, prevenção da formação de aderências e fibroses, as quais tiram a capacidade de mobilidade dos tecidos, fundamental para uma boa circulação adjacente e contração efetiva da musculatura envolvente.
Assim que possível e após uma avaliação completa da musculatura pélvica e abdominal, deve iniciar-se a reativação e reforço desta musculatura, o que também é fundamental na diminuição do edema e normalização da circulação. A reabilitação desta musculatura vem também facilitar a correção postural, que facilita significativamente a normalização do padrão respiratório, mas também a função digestiva.
A aplicação de um programa de exercícios gradual, e o seu cumprimento por parte da nova mãe, é fundamental para que os ganhos e a recuperação seja sejam efetivos. Vários estudos demonstram que o acompanhamento Fisioterapêutico com trabalho ativo da musculatura abdominal e pélvica, diminui o risco de dores e disfunções no primeiro ano após o parto.
Se tiver incontinência urinária/fecal, a intervenção é a mesma?
No caso de haver uma incontinência, é importante que haja um diagnóstico completo do quadro clínico, para poder definir melhor a intervenção. De qualquer modo, a intervenção passa sempre por melhorar a contração e controlo dos esfíncteres (urinários e fecais), através de estimulação com biofeedback e um trabalho mais direcionado para a musculatura afetada. Com os ganhos obtidos, os quais são beneficiados com a melhoria da contração da parede abdominal, gradualmente pode ser aplicado um programa semelhante ao referido anteriormente.
Quando voltar à atividade física como fazia antes de engravidar?
O nível de atividade física que a nova mãe estava habituada a realizar antes da gravidez é um patamar desejável e perfeitamente alcançável. Contudo, o atingir desta meta deve ser feita de forma gradual e com acompanhamento de profissionais habilitados para este processo. Após uma abordagem Fisioterapêutica, a progressão gradual no plano de exercício deve passar a ser feita com o acompanhamento de um instrutor que conheça todas as alterações durante e após o período de gestação, adequando os exercícios até atingir o nível pretendido. Esta intervenção deve iniciar-se ainda com acompanhamento da Fisioterapia, para evitar consequências negativas de algumas possíveis compensações iniciais de adaptação ao novo programa de exercícios.
A Equipa Fisiorégio